- Bruna Pinhati
conto de amor I - fuga
Atualizado: 2 de Jul de 2020
Esses dias eu li que é possível sim morrer de amor. Uma tristeza tão grande toma conta de você quando seu coração é quebrado que seu corpo meio que entende que você está morrendo. A glândula que produz a adrenalina fica totalmente desregulada, começa a soltar adrenalinas mil no seu corpo e isso pode te causar, de verdade, um infarto. você realmente pode morrer de infarto por ter tido o seu coração quebrado. por se sentir largada, por se sentir triste demais, por se sentir insuficiente, por se sentir um lixo. pois é. foi exatamente tudo isso que eu senti no dia que ele disse que não queria mais nada comigo. no dia que ele olhou bem na minha cara e disse que ia me deixar, que aquilo não podia acontecer mais, que ele tinha um propósito muito maior na vida dele e que eu não fazia parte desse propósito. e aí ele simplesmente foi embora. eu não consegui comer por dias e o que eu comia, eu vomitava. eu passava o dia inteiro deitada na cama, não conseguia fazer absolutamente nada. tudo me dava dor, uma dor no meio do peito, uma dor no meio da cabeça, meus braços doíam, minhas pernas pareciam adormecidas. eu me vi em uma depressão que tomou conta de mim por absoluto. eu nunca tinha amado alguém do jeito que amei ele. ele representava pra mim uma coisa divina, uma coisa fora do normal, ele pra mim era deus. eu me relacionei com deus por anos até ele se cansar de mim. foram semanas e semanas que se transformaram em meses até eu conseguir me recuperar minimamente e começar a jurar para mim mesma que se o visse na minha frente o mataria. eu daria diversas facadas na barriga dele, eu veria seu sangue escorrer na minha frente, arrancaria dedo por dedo de cada uma das sua mãos, eu pegaria o seu crânio e esmagaria na calçada numa tentativa de fazê-lo sofrer do mesmo jeito que eu sofri. claro que nem chegaria perto. isso tudo se resumiria a uma simples tentativa. até que teve um dia que ele apareceu na minha casa e eu abri a porta. e, pra minha surpresa, eu não tava segurando nenhuma faca, como tanto tinha fantasiado durante meses. abri sem nada, abri limpa. ele me olhou e perguntou se eu não queria fugir com ele. saí correndo pela casa pegando roupa, pertence, documento, dinheiro, tudo, coloquei tudo dentro de uma mala e fui. eu não me importei com nada. não me importei com o meu marido, não me importei com a minha filha de 12 anos nem com a de 5. eu fui embora com ele. porque ele representa tudo de lindo que existe no mundo. eu, com 35 anos nas costas fugi de casa com o pastor da minha igreja. eu larguei tudo, absolutamente tudo, e fui embora com a pessoa mais divina que ja me cruzou o caminho. e eu não me arrependo. foi a melhor coisa que já fiz em toda a minha existência.